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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Uma crônica familiar em: "O salvador do mundo"

         

     
         Estávamos eu, meu tio Seu Zé e sua esposa Maria Helena na Serra da Boa Vista, mais precisamente, na casa de minha falecida avó Antônia. Na ocasião, "despinicávamos" feijão-verde. Conversa vai, conversa vem, escuto de Maria Helena um relato um tanto curioso: o quadro de "O salvador do mundo" que foi passado de pessoa para pessoa, todas da mesma família, atravessando décadas e décadas e que hoje o favorecido é meu tio Seu Zé que, ao morrer, já deixou claro que este quadro passará para as mãos de seu filho Ricardo, muito querido por Antônia e, por natureza, cuidadoso com as antiguidades. 



        Não se sabe ao certo quem comprou, mas a história relatada começa falando de Belarmina, mãe de minha avó. Ela possuía este quadro que, em seguida, não se sabe bem se com vida ou depois de partir (provavelmente para o "andar de cima"), transferiu-o para Sílvia (não há registro de foto), que seria  cunhada de Belarmina.





 


        Sílvia, por sua vez, entregou-o a irmã de Antônia, por nome de Creta (... que, pela sua feição nesta foto, nota-se a doçura de sua pessoa). Esta, provavelmente após sua partida (ainda não se sabe para qual "andar"), deixa certa a transferência do digníssimo e tão estimado quadro para Ana, sua irmã que, felizmente, ainda está em nosso meio carnal. 








       Ana, à direita, que passou uns dias morando na casa de sua irmã Antônia, à esquerda, levou este e outros quadros. Amparo, minha doce mãe, filha de Antônia e já casada, para deixar a casa mais bela, acha de colocar uma cortina na parede da sala onde estavam os tão sonhados quadros de "santos", inclusive ele, o adorado. 







       A própria, de blusa avermelhada (foto não atualizada), achando que todas aquelas imagens deveriam ficar nos quartos da casa, teria sugerido à sua mãe Antônia que colocasse aqueles "santinhos velhos" nos quartos. Segundo relato, essa atitude causou estrema dor, angústia, tristeza e decepção em Ana que, em desabafo a Maria Helena, teria dito, em outras palavras que, se seus santos não eram bem-vindos naquela parede , ela não era bem-vinda àquela casa. O fato gerou um desconforto muito grande, mas Ana e Amparo chegaram ao acordo e às pazes.
   
         O quadro de O salvador do mundo foi doado por Ana a Antônia, sua irmã, permanecendo nesta casa até a partida de Chico, esposo de Antônia. Quer saber pra que andar ele foi, né...? Enfim... Com isso, Antônia passa a morar em Palmeira dos Índios. Ela... e seu quadro. 

       Numa dessas longas conversas com seu estimado filho Seu Zé, à direita de sua esposa Maria Helena, deixa claro que, ao morrer, o quadro passaria a ser seu. E essa doação foi similar a quem doa a relíquia das relíquias, como, de fato, era o que todas essas mulheres detentoras dessa imagem, sentiam e vivenciavam. Antônia se vai... (para o "andar de cima") e o quadro permanece em sua casa, em Palmeira, ficando lá por dias e dias. As pessoas mais próximas a Seu Zé pediram para ele ir logo pegar sua herança (o quadro). Afinal, os cuidados deveriam ser mantidos, preservados e honrados. Seu Zé demora a ir buscar e seu irmão Zé Dule toma a providência de pegar o quadro e levá-lo, não para casa de Seu Zé, mas para a antiga casa de Antônia, na Serra da Boa Vista. Segundo ele, para proteger a casa. Os dois irmãos sabem que o privilegiado da vez é Seu Zé, mas gostam da ideia do lugar estabelecido para o quadro. Quando Seu Zé partir (provavelmente para o "andar de cima" pois, dentre outras qualidades, ele assume que nunca cometeu o pecado da mentira), este quadro passará para as mãos de seu filho Ricardo. 



       Ah...!!! Para quem este quadro será doado? Ora... Esta continuidade, se eu ainda estiver por aqui, hei de relatar. Se não, hão de contar. Para que andar Ricardo e eu vamos? Ora, ora, ora... Ele, eu não sei,  mas eu, uma candura de pessoa, tão meiga, tão frágil e tão delicada, certamente para a mais alta das galáxia.
         

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